Na fábula bíblica, a queda da Torre de Babel simboliza a fragmentação de um projeto coletivo, originando a dispersão e a diversidade linguística e cultural. Essa dispersão pode ser vista não como uma perda definitiva, mas como uma transformação que permite a reconstrução de novos laços. “Ruas para a Harmonia” parte dessa ideia para representar um percurso onde a diversidade se entrelaça na construção da paz. A obra apresenta pipocas como símbolos de leveza e universalidade. Embora não pertençam a uma cultura específica, as pipocas são amplamente reconhecidas, ilustrando uma linguagem comum que atravessa fronteiras. Esse elemento visual sublinha a noção de que a paz se constrói através da partilha e do reconhecimento do outro, num constante processo de comunicação e entendimento. A composição deste cartão incorpora padrões inspirados em bordados e símbolos tradicionais, desconstruídos e reorganizados para evocar um sentido de continuidade e transformação. O uso de detalhes recortados de trabalhos antigos da artista, reconfigurados, misturados com elementos recentes, e colados em múltiplas camadas reforça a ideia do legado cultural como bagagem e como construção. Assim como a tapeçaria de Portalegre, conhecida pelo seu detalhe e precisão artesanal, a paz exige um entrelaçamento minucioso de histórias, memórias e experiências, num processo de permanente renovação.