
Obra 44
Vera Fonseka
Fruto do tempo
Tinta da china, acrílico, colagem, marcadores de álcool, aguarela, lápis de cor
35 x 50 cm
Tema: Paz
2025
“Fruto do Tempo” reflete a identidade em movimento e a paz como um processo dinâmico de integração e aceitação. Os mirtilos, outrora desconhecidos em Portugal, mas atualmente amplamente representados na agricultura portuguesa como resposta à globalização e às exigências do mercado, são aqui uma metáfora para os apátridas e retornados, que encontram novas formas de pertença ao se entrecruzarem com outras culturas.
A paz, nesta obra, representa um ato de construção ativa, de acolhimento e transformação. O movimento migratório, tal como a introdução de novos elementos na paisagem agrícola, leva à coexistência e à ressignificação de territórios, tradições e identidades. Neste trabalho, a repetição de padrões sugere esse movimento contínuo de transformação e adaptação, num diálogo constante entre o que se herda e o que se constrói.

Como defende Derrida, a repetição nunca é meramente idêntica, mas carrega a diferença, reelaborando formas familiares e abrindo espaço para novos significados. Assim, a justaposição de elementos na composição da obra reflete esse jogo entre permanência e mudança, onde cada traço do passado é simultaneamente preservado e ressignificado. Fragmentos de trabalhos antigos da artista, combinados com novas camadas e elementos contemporâneos, expressam a paz como um processo de continuidade e transformação constante. Assim como a tapeçaria de Portalegre, que une fios em diferentes tensões e direções para formar uma imagem coerente, “Fruto do Tempo” propõe que a paz se constrói no entrelaçamento de histórias, memórias e experiências, onde cada novo elemento não substitui o anterior, mas o complementa e o amplia.